sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Senhor Romildo Rodrigues da Silva


Pôr-do-sol no Rio Potengi. E uma conversa com um tal príncipe fracassado.

Por Jéssica Guerra


“Só existe uma raça: a humana”. Essa foi a primeira visão que tive ao descer do carro e olhar para frente, quando estacionei na Avenida Tavares de Lira. Marcado com força à tinta preta na parede branca, o que muitos chamariam de pichação, eu chamo de protesto. “Avenida Tavares de Lira - Administração do Governador Alberto Maranhão 1908-1914”. Não! Esses dados não são palavras minhas, estão escritos por ali em relevo baixo em um busto, que além de delimitar o começo da avenida, traz a imagem do governador. Alheio a extensão da avenida, o olhar de Alberto Maranhão fita o Rio Potengi e o Barzinho da Dona Janete. O porquê de uma estátua que marca o início de uma avenida ter o seu homenageado e os seus dizeres voltados para o lado oposto a continuação da rua eu não sabia, mas logo me ocorreu outra preocupação: ler a escritura. Tive certa dificuldade. A palavra “governador” foi lida em braile, com as mãos.

Anda Pedro, presta atenção! Olha a caçamba ali que nós precisamos trabalhar para crescer, crescer mais. Romildo sentado aos pés da estátua olhava o movimento e ouvia atentamente a conversa de outras pessoas; parado, inerte, extasiado. Um senhor que ao primeiro olhar era somente mais um homem magro de 60 anos com a camisa à tiracolo, cabelos e barba brancos, chinelos vagabundos aos pés, mão direita estendida com o antebraço a encostar sobre o joelho direito.

- O porto começa por aqui?

- Sim, começa aqui e vai até o Canto do Mangue.

- Desculpa a pergunta, senhor, mas qual o seu nome?

- Romildo Rodrigues da Silva!

Romildo respondeu como um príncipe quando exibe, orgulhoso, o nome completo. Como um príncipe, sim, completo, mas não tão grandioso como o de um herdeiro real. Veja só, apenas três nomes, mesmo: Romildo Rodrigues da Silva.

- Você trabalha por aqui?

- Aqui perto. Faço faxina ali no Sindicato dos Pescadores.

- Gosta desse lugar?

- Gosto, mas eu acho que deveriam fazer uma festa em homenagem a esse moço que não deixou os holandeses dominarem Natal.

- Hã? Que moço?

- O moço que deu o nome à rua. Eu não sei se foi assim mesmo essa história, eu li em um livro, mas não era nem nascido, não sei mesmo - e sorriu. Não, seu Romildo, na verdade a história não foi bem assim.

- O senhor gosta de ler? O que está escrito na sua camisa, posso ver?

- Pode, claro! Conselhos bons, esses! Eu ainda não havia lido o que dizia a minha camisa. “Seja solidário, Plante uma árvore, selecione o seu lixo”. Eu daria esse recado aos meus filhos.

- Quantos são seus filhos?

- É empate!

- Empate de quê?

- De filhos, aqui e em São Paulo! Quatro filhos aqui e quatro lá.

- O senhor já morou em São Paulo e trabalhava com o que?

- Já fiz de tudo por lá, vendi lanche na Praça João Mendes, trabalhei em uma metalúrgica no Jabaquara.

- E por que decidiu ir para a Paulicéia Desvairada?

- Eu casei, tinha um dinheirinho sobrando, fui para Belo Horizonte de ônibus e o dinheiro chegou ao fim. Então andei à pé de Minas Gerais até Guarulhos. Naquela época eu apareci no Augusto Liberato e tudo.

- Fizeram uma reportagem com você?

- Sim – respondeu, orgulhoso!

“Seu Romildo, o senhor já estava bebendo?” - perguntou um rapaz. “Desse jeito não vou mais dar peixe para o senhor levar para casa. Beber faz mal”. O nosso caminhante errante olhou para mim, sorrindo, e disse que aquele seria um bom conselho para alguém que não bebe. “O senhor bebe muito, Romildo?”. Pela primeira vez, desde o início da nossa conversa, ele hesitou um instante para responder, mas não sem antes arquear as sobrancelhas com seus finos fios brancos que se enrolavam por cima de uns fios mais negros e engolir saliva em seco. “Não, eu bebo somente quando não tem muito serviço no sindicato. Quando tenho muito o que fazer eu me esqueço de beber”. Ofereci um cigarro, ele aceitou. Se ao primeiro olhar eu havia visto somente um senhor magro de 60 anos com a camisa à tiracolo, cabelos e barba brancos, chinelos vagabundos aos pés e mão direita estendida com o antebraço a encostar sobre o joelho direito, ao segundo olhar eu pude ver as unhas sujas de quem trabalha duro, um ferimento no pé envolto por uma sacola plástica, uma verruga discreta embaixo do olho esquerdo e um sorriso amarelo de quem conserva uma barba enorme para esconder os dentes faltosos da arcada superior. Demoramos um instante em silêncio, o tempo suficiente para acender um ou dois cigarros.

- Aqui é muito perigoso?

- Não, é tranqüilo! Lá para cima, perto daquela loja grande da C&A na Rio Branco é que é perigoso. Semana passada eu fui pegar a minha irmã, que está fazendo um curso de arte culinária e me disseram que uns homens assaltaram um pessoal na parada bem ao lado de um carro da polícia e que não havia ninguém no carro, sabe? Os policiais saem, assim, um vai tomar um cafezinho em um bar próximo, o outro vai para aqueles cantos. Eu não sei, não quero fazer julgamento.

- Já viu muitas brigas por aqui?

- Uma vez eu cheguei aqui no Bar da Morena (o da Janete) e estavam dois moços armados com facas e havia ainda outro moço "caqueando" assim. Eu vi na hora que [o terceiro] estava com um revólver e iria rolar confusão, então, eu disse para todos pararem com aquilo, que não era certo e poderia ser fatal para qualquer um de nós. Terminou a história nós quatro tomando cerveja aí no Bar da Negona (o da Janete).

- Eles eram pescadores? Pescador tem fama de quem tem história para contar- seu Romildo riu.

- Eles mentem muito, mas ninguém acredita porque todos mentem também- foi a minha vez de rir - há mais ou menos um ano disseram ter pescado um peixe de 100 quilos e todo mundo na região foi ver. Chegando lá o peixe estava congelado e as pessoas estranharam: o mar tem gelo aqui no Nordeste também? Os outros pescadores se reuniram e foram investigar a procedência do famoso peixe, porque pescador, além de mentiroso, é curioso. Enfim, depois descobriram que o peixe havia sido roubado de uma peixaria.

- Dá para ver o rio se eu for ali ao Bar da Janete? Vamos comigo? - e caminhamos. Mais adiante nos abaixamos, eu e o senhor Romildo Rodrigues da Silva, ao passar por um fio elétrico caído de um dos postes da rua – para quê serve aquilo?

- Sabe o nome daquilo? Galantéia! – respondeu Romildo - serve para pescar.

Ao me aproximar do estabelecimento da senhora Janete que marca, inclusive antes do busto, o início da Avenida Tavares Lima, eu comecei a pensar que aquele era realmente um imóvel de luxo para os pescadores, afinal localizava-se na beira-rio. Nas paredes do barzinho alguém pichou 100% Josimar e inúmeros números de celulares – sabe-se lá para quê, alguém exibiu em um dos barcos ancorados vestígios de um patriotismo talvez obsoleto - já que a bandeira do Brasil estava rasgada, alguém dedicou alguns dos seus minutos para pintar a fachada do barco Dois Irmãos I, uma senhora esteve com uma criança entre as pernas, homens trataram peixes, senhores beberam, um gato doente pareceu chorar sangue e um homem questionou ao outro sobre o seu isqueiro roubado. “Você pensa que aqui é raso?”- perguntou Romildo – “fizeram uma pesquisa e descobriram que aí tem de 17 a 18 metros de profundidade, me pergunta agora como eu sei. “Como você sabe?”. “Já entrei aí e fui andando, teve uma hora em que não encontrei o chão do rio, é que aí tem como é que chamam mesmo? Um declive!”. Nesse instante, Romildo olhou para o sol que se punha e pude notar “O senhor tem olhos claros? Parecem com os meus, eles também tem tons diferentes assim; o direito do esquerdo”. Olhos claros, como de um príncipe, porém cego, o olho esquerdo ele havia perdido quando bandidos o confundiram com outra pessoa, em São Paulo, e deram-lhe marteladas na cabeça que o deixou por 72h na UTI de um hospital.   
“Olha só, toca aqui. Tá vendo o buraco? Foram as marteladas.” E eu toquei no cabelo do senhor Romildo, cabelo sujo e desgrenhado como uma bucha de aço, talvez de ferro diferente do que ele disse juntar latinhas para vender na sucata por 10 centavos. Porém, alumínio é diferente, pagam 2 reais. “A gente tem que ter sorte”- e foi embora, apertando-me a mão e deixando escrito com as suas próprias letras, que honra, no meu papel o endereço de onde mora nos fundos da sucata "Apamel José Wilson - Romildo". Quando deu as costas, eu pude ver mais uma enorme cicatriz do nosso príncipe fracassado e pensei que histórias estariam por trás dela. Logo após o chamaram em uma das mesas e quando virei novamente para vê-lo, Romildo já emborcava outra meiota de cana no Bar da Morena ou Negona, ou, oficialmente, no Bar da Janete.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Em uma madrugada qualquer estava eu tranquilex quando me deparo com esse link http://bispomacedo.com.br//2010/02/08/libertas-do-homossexualismo/ e me deu uma vontade imensa de falar um monte para esse pessoal da Igreja Universal mas aí eu estava com tanto sono que dei somente uma alfinetada com esse texto:

Se existisse mesmo Satanás, todo o mal dele poderia ser resumido a uma única ação de vocês: ganhar dinheiro em cima de gente inocente! Já que vocês acreditam tanto em inferno, não têm vergonha do que fazem? Se vocês notarem e averiguarem, as pessoas mais devotas, árduas, são as mais ignorantes. Vocês deveriam ter vergonha e pedir desculpa ao Deus que VOCÊS  acreditam por fazerem o que fazem. Acreditam em um livro escrito há mais de 2000 mil anos e com mais de 300 traduções, um livro ultra contraditório que ao mesmo tempo que diz "Não matarás" alega que Deus têm o direito de tirar a vida de quem bem entender, me poupem. Não gostaria de estar aqui criticando dessa forma, sou adepta da liberdade de expressão mas ao mesmo tempo que entendo o direito de cada um manifestar-se, entendo também o direito de respeito aos que pensam diferente. Por favor, entendam de uma vez por todas que ninguém é obrigado a gostar de vocês, gostar do grito de vocês, gostar das mentiras que vocês contam, gostar de ver vocês ludibriarem pessoas ignorantes. Ninguém é obrigado a engolir as asneiras que vocês nos falam, os inúmeros canais de televisão que vocês ocupam, a indústria da fé que vocês criaram. Ninguém é obrigado a ouvir todos os dias o quanto vocês odeiam os gays e o quanto vocês são contra o aborto.
O sentimento é a única coisa que nos faz ter sentido, não tentem acabar com isso! 
Qualquer maneira de amor vale a pena!

E obtive essa resposta:

Cara amiga,
Ao que parece voce nao conhece a igreja Universal,
vou tentar responder as suas questoes na mesma ordem que voce as mencionou:
O unico objetivo da Igreja Universal eh levar almas para o reino de Deus, arrecada-se muito dinheiro? Sim, nao como falam, mas arrecada-se, mas em compensacao os gastos sao muito altos tambem... Pra que voce tenha nocao de valores, uma igrejinha de 200 lugares, tem em media uma divida de aluguel de mais de 10/15 mil por mes... Fora agua, luz, telefone, panfletos, jornais, revistas... Tudo isso vai dinheiro, querendo ou nao. O que sobra de cada igreja, eh enviado a Sede que vai ser investido na construcao de novas igrejas, reforma das igrejas ja existentes, e compra de horarios na TV...
Essa ideia ateista de que sao os mais ignorantes que sao mais devotos, eh uma mentira das grandes... Vou te dar um exemplo: Quantas vezes evangelizando em comunidades carentes fui mal recebido, xingado... E as vezes em locais de imensos casaroes somos bem recebidos... Fique bem claro que o contrario tambem ja aconteceu. Eu mudaria essa frase sua, eu diria: QUE OS MAIS DEVOTOS, SAO OS MAIS HUMILDES. E quando digo humildade, nao me refiro a humildade de condicoes precarias, mas a humildade de Espirito.
Quantos pobres sao arrogantes, prepotentes, orgulhosos? Quantos analfabetos sao orgulhosos? Muitos... A Humildade ou o orgulho nao estao relacionados ao patrimonio ou bagagem intelectual.
Sou fiel a Deus, filho de Jesus Cristo, e desafio a qualquer um a me provar na ciencia que Deus nao existe... Eu tenho uma otima formacao academica, nada me falta, e nem por isso nao sigo a Deus. Logo sua afirmativa cai por terra.
Todos dizem que a Biblia eh contraditoria, mas ninguem mostra essas contradicoes. No museu Biblico de Jerusalem, existem 8 escritos originais do profeta Isaias, e elas sao exatamente as mesmas escrituras que estao na Biblia Judaico-Crista, somente a Igreja Catolica que disse que o documento era armacao do diabo, porque na Biblia catolica houveram alteracoes.
Sabe porque soh falam que a Biblia esta errada, eh bem simples... Se eu lancar duas revistas, uma escrita "A BIBLIA ESTA CORRETA", e a outra escrita "A BIBLIA ESTA ERRADA", qual voce acha que vende mais? Sem duvida a que critica a Biblia. Veja o exemplo do escritor portugues Camilo Castelo Branco, ele escreveu "Amor de Pedicao" e "Amor de Salvacao", qual vendeu mais? "Amor de Perdicao" vendeu muito mais. Entao essas revistas como "Galileu", "Super Interessante"... vao sempre falar mal da biblia porque isso da audiencia. Falar mal da Igreja Universal, da IBOPE... Pode ver. A Revista Veja vende pra caramba quando coloca uma materia da Igreja Universal na capa. O ser humano tem uma tendencia natural ao erro, que soh pode ser reparado mediante ao novo Nascimento em Cristo Jesus.
E eh verdade, ninguem eh obrigado a ver os nossos programas de Televisao, para isso inventou-se o controle remoto.
Lembre-se que Liberdade de Expressao e opiniao de nada vale se nao houver responsabilidade de imprensa, e responsabilidade na expressao da opiniao, caso contrario eh calunia e difamacao.
E a Igreja Universal nunca se opos aos homossexuais, a gente eh contra a homossexualidade, nao contra os homossexuais. CONTRA O PECADO, NAO CONTRA O PECADOR. Os homossexuais, assim como os demais seres humanos sao carentes de Deus.

Veja essa materia em que o Bispo Macedo condena o preconceito aos homossexuais:
http://bispomacedo.com.br//2010/02/06/homossexualismo-2/

E sobre o aborto entao, o Bispo Macedo apoia:
http://www.youtube.com/watch?v=C4xwOttfbZY

Viu soh, voce falou sem conhecimento de causa, assim como um dia eu tambem o fiz.
Que Deus te abencoe.

E minha resposta foi:

Ah, eu tenho um videozinho para vocês também!
http://www.youtube.com/watch?v=o0iQji3nhqk

Nada que venha de um cara como esse me interessa!
Ele pode ter mil argumentos, não acredito em nenhum e não, não tenho o satanás no meu corpo, ok?




OK, eles têm um falso argumento para tudo, agora eu entendo o porquê deles conseguirem enganar tanta gente. Um dia eu ainda leio a Bíblia toda, marco cada contradição dela e respondo o email again, hehe.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

CARTÃO DE VISITA (Você tem que desistir)

… é, será que eu posso só te dar - meu cartão de visita?!

…é que o amor ao mesmo tempo que nutre, deixa-nos fracos, agonizantes e cansados. é que o amor é um movimento de dar e receber num caminho de duas vias, um movimento de contração e dilatação, fluxo e refluxo.

o grande problema entre os amantes é quando há discrepância entre um movimento e outro. se dou demais e não recebo, torno-me seco, triste e me canso. se recebo demais e não dou nada, me torno um filho-da-puta inchado e egoísta. e no final de contas os amantes sempre apontam o dedo na cara uns dos outros, exigindo igualdade entre aquilo que dão e aquilo que querem receber.

eu não quero saber de nada disso. eu quero todas as vias possíveis.

me doar sem esperar que ninguém me responda da mesma forma,
receber sem que ninguém exija de mim uma reação com a mesma força da sua ação.
eu quero é enfiar a cabeça e confundir aquilo que eu faço com aquilo que me é feito,
sem distinção.
eu quero é amor e afirmação, e não o ego que espera pra poder agir.
se ninguém me escreve, eu cá estou me afirmando e me derramando ainda que outras pessoas estejam dormindo, ou trepando, ou na estação de metrô com a cabeça na lua.
Pra mim bastam as aberturas: o conteúdo e a forma de amar é a gente que determina.
eu quero é a paixão que me permite o extravasamento da mesma forma que o recolhimento,
sem que isso signifique uma diferença na intensidade.
eu quero é poder me calar e explorar outras formas além do verbo
sem que isso signifique falta de diálogo.
eu quero é poder tirar a roupa e pisar em cima de raiva e desespero,
sem me envergonhar da minha insensatez e insanidade.
eu quero é jogar na fogueira toda norma, toda teoria estéril e viver aos braços alheios.
jogado! a máxima consciência do outro, sair de mim e pairar leve no espaço que comporta
todos os meus amores, eu que me apaixono todos os dias, pelos mesmos, pelos outros.
não exigir nada de ninguém. quero é comer as vírgulas e escrever e falar como as coisas me aparecem sem filtro sem máscaras sem medo.
se digo,”serei fiel a você”,
estou demarcando um espaço silencioso além do alcance de outros desejos.
porque ninguém pode legislar o amor,
ele não pode receber ordens ou ser intimado para o serviço.
o amor pertence a si mesmo, surdo a suplícios e imóvel à violência.
e não algo que você possa negociar.
é que o amor deveria ser uma carta de alforria ao invés de mais um contrato que nos costura exclusivamente ao outro e ao mundo do outro.
estamos amarrados um ao outro numa linha que criamos e não numa linha gasta e falida que a convenção nos concedeu, e isso é tão maior, porque além de amar a pessoa amada, amo também o amor.
de que adianta amar um outro, se odeio, se detesto a forma com que o nosso amor é conduzido e enquadrado?

quero viver dias onde eu me sinta tão pleno e tão completo eternizando dentro da minha cabeça todos os instantes, todos os ângulos que meus amores e a minha visão me permitirem.
e que cada noite, ainda que mortos de sono ou de tesão, ainda que em movimentos bruscos ou na calmaria dos corpos e mentes já cansados, cada noite dessas eu me derreta pra depois me recolher maior, mais vivo e mais forte, mesmo sem demonstrar, mesmo sem ser percebido.

e saindo de casa com as olheiras fundas e um sorriso incontrolável no rosto.
na minha cabeça as velhinhas na rua com seus poodles e os comerciantes abrindo suas lojas se sentirão agredidos pelo meu transbordante sentimento cheirando e irradiando a violência que acompanha toda paixão. violência no sentido mais elementar do termo, de não sair ileso, de estar pra sempre marcado, de ter sido fortemente violado. ir andando com o sangue correndo apressado pelas minhas veias, meu coração se contraindo e dilatando numa velocidade nova e imensa. daí as vontades de dar voltas correndo pelo quarteirão, igualar a velocidade do meu corpo com a velocidade que corre aqui dentro de mim. o que vai ser agora?

eu não sou daqueles que tem respostas prontas, tão objetivas assim, mas procuro uma intensidade que só é suprida quando puder pensar sem medo que “mañana es otro día”, sem todo aquele peso de responsabilidade esmagando nossas cabeças e nossas possibilidades. ainda temos tanto…
sinto que existem incontáveis potências a serem convertidas em atos, e a chama que eu tanto preciso pra me manter aquecido até que alcance o desejado estado de fervura.
o estado radical da fervura, que se estende à todas as esferas da vida, desde a violência de uma mordida no pescoço, até o ódio ativo e construtivo à esse mundo insano e arruinado.

é que me sinto vivo de verdade quando posso desejar sem limites.
e sentir-se vivo de verdade é o passo crucial ainda que não se saiba o caminho…

a partir daqui e até o infinito possível.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

CARTA DE UM AMOR PREMEDITADO

ao meu/minha futuro(a) amante!

eu já falei que adoro o jeito que você senta nessa cadeira? eu adoro o seu jeito de pessoa importante que irá mudar a humanidade em breve (humanidade limitada a convivência de ti). eu já falei que adoro as inúmeras portas, e janelas, e vidros que existem entre nós? e, ciente, as adorarei cada vez mais no dia em que quebrá-las, a todas, uma por uma. em suas, ainda existência, sinto as ações que reverberam de ti para tantos outros e marcados em batom preto nas nossas janelas meus beijos te dirão para não me procurares para não me achares para não me encontrares, me ignores. somente após sentirei que me partirá os ossos, me cortará a respiração por fora na tua não presença a tua real ausência. faltará por dentro os centímetros que nos separavam além daquelas portas e depois, quilômetros próximos, ei-os em breve. questionar-te-ei como poderás tu me deixar assim? levantar e não encontrar o café da manhã pronto e me dirás "que ele nunca esteve pronto, assim" mas não entenderás que você estava e bastava, ou não estava mas te saberia em breve a chegar, te saberia em breve a chegar por entre passarinhos. machado no ar, esse meu. mania cortante essa minha de me preocupar com as horas com a vida com os toques com os toques com os toques com os tiques com os taques, que mania essa minha esquecer assim da vida! esquece assim da vida, meu amor, que me confidenciaram uma nova teoria de cachorros em busca de sensações e cheiros e, somos um pouco disso: animais e idiota! o que seríamos além de animais idiotas ignorantes alienados vindos não sei daonde e indo não sei pronde, se não isso? novas sensações, com você, sensações com você me bastariam. é, sensações com você me tornariam menos animal e mais humano me tornaria meu amor, por você. meu amor por você!  depois já saberei, já te sentirei a chegar e a me dizer baixinho no meu ouvido até atingir meu coração e puxá-lo num só golpe para fora de mim, dirás que todas as coisas seriam mais fácies se você fosse, assim, dessas pessoas que se contentam em mudar a posição da cama, ajeitar um quadro torto, comprar uma roupa nova ou cortar o cabelo, mas não! me dirás estar sempre em busca de algo maior porque não te conformarás nunca apenas com uma nova posição da cama ou um novo corte de cabelo, mais mais mais: vai querer mudar de casa, de  vizinhos, vai querer mudar de pessoa e é por isso que não me contentarei no futuro, saber-te , no passado, por mim. não apenas por, eu te queria sob, in, eu te queria fundo. não, eu vou te dizer que não queria você por mim e, sim, te queria em mim! já ouvi antes aqueles papos de rodas-gigantes de novidades montanhas-russas de sentimentos, logo eu que não tenho um parque de diversão! então ficarei com aquele gosto na boca ao encontrar-te por aí num supermercado que nada desmerecerá a ponte horizontal sob os rios do que foram os nossos ventos, ventos esses que por  longos tique taques nos massagearam até o ultimo poro, até o ultimo osso e, assim, partiremos por outros assuntos, muitos, mas no meu conto estaremos sempre juntos.

.para nos falar baixinho do começo e do fim, e de um novo começo.