segunda-feira, 28 de março de 2011

São somente pássaros, baby!

Invades devagar flutuando sobre o branco. Esquece-te por um instante do cinza que te unes a um ponto comum. Tocaste em ti. Pare! Sentes teu próprio toque e lembra-te: não estamos todos aqui por acaso, não estamos todos aqui por coincidência, não estamos todos aqui por destino, não estamos todos aqui por um beijo. Estamos todos aqui, apenas, para sermos chamados Loucos. 
Loucos quando nos sobra tempo, Loucos quando nos falta tempo. 
Loucos quando nos falta tempo para contabilizarmos as nossas cicatrizes, quando falta tempo para nos descobrirmos em nós, Loucos quando dirigimos ziguezague entre ruas e travessas e entre almas que nos atravessam: espirrando em espirais ... sussurrando surreais. Loucos, Loucos, LOUCOS quando sobra tempo para nos empurrarmos em nossas linhas quadradas; de punições! quando nos esticamos inutilmente em puxões; de orelha! Loucos quando cortamos cílios com o olhar, fazemos a sobrancelha com canivetes, machucamos os nossos próprios joelhos. Loucos quando nos trancamos em nossas casinhas brancas de guardar carvão, em cabines de banheiros, em um colchão no chão.
Faz o seguinte: enfoque contigo em você mesmo. Afinal, são somente pássaros, baby.
Pássaros voando para os nossos ambientes fechados, flutuando devagar sobre o branco. 
E eu já terminei o meu banho!

terça-feira, 22 de março de 2011

DIAS MAIS JUSTOS

E de um novo começo que em breve, no passado, começou.

Passou por mim, quem? Quem permitiu me olhar assim? Como quem paga dinheiro desmerecido por show desconhecido, chegou assim sem muita importância em meio a pessoas sem muita importância e pôs-se a falar de coisas sem muita importância mas me fez sorrir, me fez sorrir de qualquer coisa, também, sem muita importância. Decidiu por si própria cruzar o limite quase inexistente das batidas. Três batidas na porta. Abriu, sorriu. Eu quase te diria que não havia de me apaixonar por você se não fosse esses seus olhos a diminuir quando você sorri. Apertam apertam apertam e me apertam também por dentro e eu que nunca havia desejado, veja bem, nunca havia desejado ser outra coisa que não eu, por exatos três minutos em intervalos heterogêneos eu pensei que gostaria de ser outro.

Bem que eu tentei por outros instantes evitar cada instante, mas realizava e seu olhar transparecia feito prédio horizontal; mais utópico que panela de pressão, mais surreal que martelo verde-limão, mais assustador que buraco negro, mais desejado que cama japonesa no céu, mais bonito que casinha vermelha no topo de uma montanha verde em vida transpassada por um lindo riacho de águas cristalinas e sonoras. Seja lá o que isso for, dá para você não fazer isso? Aliás, por favor, dá para você fazer isso?

Por paralelo os efeitos colaterais: transformar-me-ei peste negra no apocalipse. Típico como apagar a memória para se proteger, para continuar vivendo. Típico como tratar mal a quem te faz sentir bem... para se proteger, para continuar vivendo. Típico como essas coisas todas que todos nos dizem e que de tanto não fazerem sentido algum acabam por transformar-se em verdade universal e irrefutável e Fica Comigo?
talvez todo domingo soe como chegada, e partida!

- e hoje nem é domingo!

quarta-feira, 16 de março de 2011

SOBRE UMA RUA

Talvez eu devesse escrever sobre aquele pequenino menino e sobre aqueles outros dois garotos que estavam a brincar através daquela minúscula rua de barro sem saneamento e que, tão carentes da mínima atenção, disputavam um ou dois gritos a mais entre um chute na bola de meia velha e remendada e o ruído de buzina produzido por um carro qualquer. Ou talvez.
Ou talvez não, talvez faça mais sentido (e que sentido?) escrever sobre a conversa da moça solitária que esperava o seu marido na mesma minúscula rua de barro sem saneamento e que, tão carente da mínima atenção, disputava um ou dois assuntos a mais entre um cigarro vagabundo tragado sob os três batentes de cimento batido que dividia a humilde casa de um vão (apenas) daquela mesma minúscula rua de barro sem saneamento.
"Por aqui é perigoso" "Você pode ficar, se quiser" "Quantos anos você tem?" "Por que pararam de brincar?" "O meu marido sempre se demora a chegar e essa cidade não me atrai" e. e. e vez em quando eu me pego a pensar qual será o destino da nossa moça solitária., será que o marido dela retornou à casa de três batentes? E sobre o pequenino menino? O que irá se tornar? Me desculpem vocês, mas só consigo enxergá-lo como um incrível lutador de circo, instaurado em tantas outras ruas de barro sem saneamento, por aí.