terça-feira, 20 de abril de 2010

Ela tem essa mania de desenhar coisas nos ares e isso me intrigava, muito. Quando criança eu ficava olhando, pensando, imaginando, tentando decifrar o que ela tanto escrevia, sim, porque a opinião dela era algo inexplicavelmente mais importante do que a minha própria e eu aguardava, aguardava o que poderia significar aquilo; uma prece, mandamento, regra, adivinhação ou profecia? Curiosa, eu tinha o desejo de saber o porquê daquilo tudo mas nunca tinha a tal coragem-atrevimento de perguntar, só observava. No carro, hora do almoço, telefonema, assistindo tevê, dirigindo ou antes de dormir, distraída e num instante, novamente, ela ficava a desenhar outras coisas nos ar. Parecia automático como comer quando se tem fome, beber água quando se tem sede, tremer quando se tem frio, parecia significativo como primeiro beijo, saudade de filho, abraço de despedida. 
Eu fui crescendo, porque essa é a ordem natural das coisas e não tem outro jeito, e os gestos iam se tornando cada vez mais repetitivos, porém não comuns pois aquilo ainda era algo incompreendido para mim. Então, depois de tanto tempo observando, observando, observando, perguntei. É, eu tive a coragem-atrevimento de perguntar. O que você escreve no ar? |  Muitas vezes nomes de pessoas, às vezes nomes de coisas | E por que você faz isso, é tão estranho?! | Sabe que eu não sei?! Minha mãe fazia, acho que puxei a ela | Parece didática | De quê? | De fixação, de controle.
Se era bom método de fixação para ela eu não sei, nunca tive muito dela mesmo e isso não seria, definitivamente, um ponto em comum, e, no final o que mais importa não é o fato de eu saber o que aquele gesto significava, isso estava óbvio para qualquer um, ela desenhava nomes, claro! Mas o que era o tchan, bum, top e como é mesmo o nome do outro? Lembrei, clímax! Sim, então... O clímax da questão era a minha angústia ao pensar no que aquilo significava para mim;  uma prece, mandamento, regra, profecia.
E o tempo passou, hoje ela continua com essa mesma mania de desenhar nomes no ar e eu continuo com a mesma mania de observar, mas existe uma diferença: isso não me dá mais medo.

Um comentário:

Cláudia Renata disse...

Adoreei seu blog, fantástico!!!