Joguei para fora aquele ser desprezível que crescia dentro de mim há meses. Puxei para fora a cabeça, ou o projeto disso, com um fórceps. Usei toda a força desconhecida dentro de mim.
Eu abortei! Dormi, na sala, com o diabo e acordei com os anjos. Extingui o cordão umbilical que me ligava àquele feijão apodrecido e não aprovado na catação. Explodi com dinamites todos os seus órgãos, recortei os trinta por cento restantes do único órgão restante, o pulmão, e colei na parede do meu quarto, em frente à cama de dormir. Todos os dias mostro orgulhoso a quem por esta porta entrar o tamanho do meu orgulho e do meu sorriso. Quero que o mundo saiba que e u a b o r t e i, abortei e não me arrependo, abortei e o faria de novo, por diversas vezes e o quanto fosse necessário, abortei e não nego! Não sou do tipo que me nego a fazer o que me é necessário. Quantos mes em uma única frase, egoísta?.
Já no primeiro mês de vida eu já sabia: bebê, eu te abortaria! Mas deixei por vir, deixei ir para te ver crescer, te deixei vir para te ver sofrer, egoísta?. Meu ego é ísta do tipo que usa algo, por que não te disseram? Todos por essas bandas são convictos mas é mesmo, bebê, você não haveria de saber antes de nascer. Te deixei crescer até a trigésima - nona semana da gestação mas não, não permiti que você nascesse e, agora, não há a mínima possibilidade de tal.
Está morto o bebê e fiz questão: nada de velórios ou enterros, cremei! Nada de epitáfios ou memórias póstumas, esses são os últimos versos. Aproveita então, bebê ou memória desse, se (de)leite com as doces palavras que te descasco agora. Mame cada letra de cada sílaba de cada palavra de cada frase e parafraseie isto: sem mamadeiras, sem velas, no escuro, sem choros durante as madrugadas.
Está escrito e decidido: EU ABORTEI VOCÊ, BABY!
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