sexta-feira, 29 de abril de 2011

os diversos usos do adjetivo real

No decorrer dessa semana o adjetivo mais falado, discutido e profanado foi a palavra "real". Vasculhando o dicionário, o termo, que além de provir do latim medieval realis e blá blá blá, corresponde a realidade, refere-se a algo que existe de fato e opõe-se a outros adjetivos como imaginário, utópico e irreal.


Por esses dias, inúmeras (ainda sonhadoras) meninas (re)vivenciaram a ilusão de ser atingida por uma agulha, deitar em sono profundo por cem anos e, ao final, salvar-se com um beijo. O estopim da salvação seria emanado por um príncipe lindo, loiro, de olhos azuis, boca rosada e dentes brancos, oriundo de um reino distante. Parece fantástico revisitar os nossos contos de fada, mas paradoxal é a única palavra que nos ocorre ao fazermos uma retrospectiva dos últimos dias, esses mesmos em que utilizamos e reutilizamos inconscientemente o adjetivo "real" embriagados por um âmbito completamente irreal.


Diversos veículos de comunicação, consolidados ou não, maduros ou não, pareceram esquecer por um curto espaço de tempo o "real" significado da nossa tão sacrificada profissão jornalística: a utilidade pública. Por isso, tal qual não foi a nossa surpresa, e igualmente a nossa decepção, ao nos depararmos com matérias como 1) " Quer casar com o príncipe? Ainda dá tempo " e logo após uma lista completa dos príncipes ainda vivos, 2) " Todos ansiosos pelo beijo "real" " e 3) "Fã britânico tatua no dente imagem do casal real" ". Isso para não enumerar as notícias que não devem ser repetidas. 


A questão é que notas, artigos, notícias e reportagens completamente dispensáveis e sem nenhuma contribuição para as nossas vidas "reais" foram veiculadas à torto e à direito. Se você, querido leitor, quiser realmente saber: real para o nosso veículo é a realidade propriamente dita. Real para nós é a Dona Neide, empregada doméstica que acorda toda manhã às quatro horas e orgulha-se de chegar cedo no trabalho, real é o Seu Jaime que tem seis filhos para criar e faz "reais" malabarismos para mantê-los alimentados enquanto vão para a escola (quando esta não está de greve), real é o Seu João que talvez tenha câncer de próstata mas atende com um sorriso aberto de dentes faltosos todos os clientes que entram na sua padaria.

Me perdoe, Kate e William, mas "reais", mesmo, somos nós!



*Editorial para matéria de Oficina de Texto III - Docente Emanuel Barreto.

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