quarta-feira, 27 de abril de 2011

o nosso jaime


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apontava de repente na esquina da rua que tinha um quebra-mola no meio. pedalava vagoroso e trôpego em meio a pedestres e carros e pingos de ouro e outros, tão raros. 
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certo dia, trouxe-me um girassol, o jardineiro. trouxe-me um girassol em meio a sobrancelhas desfeitas e malfeitas e rugas e dedos e terra fincada nas unhas e um pinheiro. trouxe-me também um pinheiro que sorria, protagonista de quatro noites seguidas de natal, no centro do jardim.
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do alto da sua bicicleta, perfumava o nosso mundo com as suas rosas como se estivesse, e talvez estivesse,  salvando a humanidade. 
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tarefa trôpega e vagarosa essa de salvar a humanidade com todos os seus pinheiros e girassóis e pingos de ouro e rosas vermelhas amarelas azuis roxas e rosas. ainda que não nos tenha salvado, é certo: todos esses me permitiram a forma da minha infância.
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e a sua bicicleta enferrujada tem a exata cor da minha alma no dia em que ele foi-se, simplesmente. partiu como apontava, de repente, na esquina da rua que tinha um quebra-mola no meio. dizem ter caído para sempre da sua bicicleta, dizem.
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mas que raro mesmo era o Seu Jaime, hein? 
que saudades! 


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