sexta-feira, 10 de junho de 2011

RELIGIOSIDADE É ACIDENTE DEMOGRÁFICO

Há cerca de dez anos alguém nascido no Ceará teria 84,9% de chance de ser católico enquanto que na Líbia um bebê teria 97% de vir a tornar-se mulçumano. Há 5 anos, um alemão teria pouco menos de 1/4 de chance de tornar-se ateu enquanto os inventores do sushi cresceriam em um meio de 65% de pessoas atéias, agnósticas, ou que não acreditam em um deus.

Nesse contexto de diversidade religiosa, me ocorre novamente aquele assunto que estamos cansados de ouvir mas é preciso repetir: o Estado é laico. Aos fundamentalistas de plantão: laico e ateu não são sinônimos. Veja bem, uma nação não deve ser crente ou descrente de quaisquer religiões, um país deve sim pautar-se na liberdade de crença e garantir o direito de expressão a todos os seres humanos que dentre suas fronteiras residem. Protestantes, Católicos, seguidores da doutrina do Espiritismo, adeptos de religiões Afro-Descendentes, Hinduístas, Judeus, Budistas, e até simpatizantes do Deus Sol e Lua, têm o direito de exercer livremente a suas crenças e não crenças. Expressá-las sem restrições também está envolvido no processo.

No Brasil, a autonomia de algumas religiões é algo extremamente forte. Em órgãos públicos que deveriam deter-se ao máximo de considerações bíblicas, símbolos religiosos ali estão expostos sem qualquer tipo de questionamento, na maioria das vezes. No Senado, o crucifixo. Nas escolas públicas, o crucifixo. Nas secretarias e sindicatos, novamente o crucifixo. Tal prática é danosa já que o livro bíblico que deveria ser apenas um dentre as múltiplas diretrizes em qualquer território nacional torna-se, pois, objeto de grande influência na gerência de toda uma nação.

Em um país desenvolvido, os direitos humanos perpassam todas as religiosidades. O livro que rege um país democrático de direito, análogo ao que tanto lutamos, é a constituição legal e universal de uma nação. É a tentativa incansável de não somente aplicar, mas também ampliar as leis de forma equitativa e entenda-se por isso, também, o anseio de recuperar a condição humana de cada indivíduo. Um representante da população não deveria nunca barrar projetos legalmente viáveis através de argumentos religiosos e, infelizmente, isso é o que mais ocorre no Brasil.

Cartilha do MEC suspensa, críticas contra a união civil estável homoafetiva e o programa nacional de direitos humanos, inúmeras discussões acerca da criminalização da homofobia. Todos esses assuntos tiveram como impedimento, em algum momento, o pior impasse brasileiro: a burocracia religiosa.

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