quarta-feira, 8 de setembro de 2010

o menino que crescia a cada independência

Veja só o destino do nosso Pedro, há 19 anos nascer no dia da Independência. Que dia bonito de se nascer hein? Que me dizes? Ah, ele quando pequeno achava bonito mesmo isso de nascer num dia histórico e não somente pelo significado da data, mas também, e principalmente, pelo nome.

Quando tinha a metade da idade que tem hoje, ou seja nove anos e seis meses, adorava responder para todo mundo o dia em que havia nascido e respondia sempre, respondia muito, respondia até mesmo quando não havia pergunta alguma, até mesmo quando não haviam perguntado. Eu nasci no dia da Independência do Brasil dizia com aquele tom agudo de menino-de-nove-anos-não-desenvolvido-ainda-um-pouco-longe-da-puberdade. E sorria. Sorria bonito como somente um serzinho de nove-anos-não-desenvolvido-ainda-um-pouco-longe-da-puberdade sabia sorrir.

Vejo só o destino do nosso Pedro, há 19 anos carregar nas costas o fardo de ser o menino que nasceu no dia da Independência. Ele tinha um posto a zelar, não? É como ser Marechal do Exército, Almirante da Marinha, pior, é como ser um Coronel na República Velha. Ele deveria ser exemplo para todas àquelas pessoas, deveria ter um comportamento exemplar, tirar as melhores notas, seguir todas as regras, afinal, ele nascera em um dia em que ninguém no Brasil deveria trabalhar ou estudar ou realizar qualquer atividade remunerada ou até mesmo se cansar nesse dia. Nesse dia deveria haver apenas concentração, reunião e patriotismo. Quero todo mundo reunido no Desfile de Sete de Setembro no centro da cidade, quero ver as pessoas cantando o hino nacional com as mãos para trás, quero fogos e empolgação, quero sorrisos e devoção, quero marchas um dois um dois um dois repetiam os soldados, é, aqueles mesmos, os do posto mais baixo da hierarquia hierarquizada, sem redundância, do exército. Pedro instigava todos os seus amigos para o dia do seu aniversário à La desfile e vivia dividido entre marcha soldado cabeça de papel se não marchar direito vai preso no quartel e os ecos repetidos, sem redundância, um dois um dois um dois dos soldados daqueles mesmos do posto mais baixo da hierarquia do exército.

E esse espírito crente e deslumbrado ao ver a bandeira do Brasil permaneceu em Pedro até o dia em que atendeu um telefonema da tia. Alô? Não, a mãe não está! E desligou. Voilá! Esse telefonema transformou tudo, transformou a sociedade, o mundo, as pessoas, ou melhor, transformou a forma toda de como ele via tudo e parecia que dessa forma tudo havia realmente mudado, mas somente ele mudou naquele instante. Ao responder a tia, Pedro notou em si um tom grave de menino-de-quinze-anos-que-atingiu-a-puberdade e que começaria então a pensar de outra forma e enxergaria então um outro mundo e suas atividades então passariam a ser outras.

A primeira coisa que ele fazia sempre e que deixou de lado no próximo aniversário, o de 16 anos, foi a velha comemoração à La desfile, Pedro se deu conta quando-atingiu-a-puberdade que soldados eram exacerbadamente milhares de vezes mais ecos de um dois um dois um dois do que marcha soldado cabeça de papel se não marchar direito vai preso no quartel. E além do mais ele havia acabado de fazer 16 anos, não poderia mais se dar ao luxo de completar idade a cada mês ou a cada dia, como quando a gente é criança e completa nove anos e seis meses.

O mundo é outro, velho! Pedro atualmente cospe na bandeira do Brasil, acha patriotismo o fim da picada e nunca, em hipótese alguma, serviria ao exército, inventou miopia grave de doze graus no dia do exame. Veja só o destino do nosso Pedro, completou 19 anos ontem e ao acordar, de ressaca, há 26 minutos, no meio da manhã, viu três passarinhos através da porta cantando músicas doces de melodias puras e verdadeiras e de repente ele se deu conta de que não deveria se preocupar com nada, que cada pequena coisa iria se resolver e tudo ficaria bem. Otimismo e Rebeldia. Pedro soltou um grito então. Então e enfim o nosso menino atingiu a Independência, Brôu!

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