sábado, 14 de maio de 2011

Jornal Impresso: Fim ou Recomeço?

Sábado, oito horas da manhã. Coloco os pés no chão e dou início àquele ritual matutino cotidiano que fazemos durante as manhãs: banho, escovar os dentes, beber água e café, e, ler o jornal. Ler o jornal?!

“Utópico!” Esse é o adjetivo descrito pelo Seu Didi, o meu nobre vizinho aposentado, quando o pergunto sobre a afirmação de que jovens de vinte anos ainda lêem jornal impresso à mão, tocando e amassando o papel, passando páginas com as pontas dos dedos molhadas pela língua. “Ao menos que sejam obrigados a isso em consultórios médicos, por exemplo.” complementa o meu compartilhador preferido de muros. Mas será que o Seu Didi está realmente correto? É verdade que os jovens desprezam, cada vez mais, as laudas pedidas e os números de caracteres contados do jornal impresso? Já podemos encomendar o velório e queimar qualquer vestígio de representantes da classe que moram esquecidos embaixo das nossas camas?

UMA BREVE IMPRESSÃO DO IMPRESSO
“Sem as notícias o homem se sentiria infinitamente diminuído”, essa frase escrita pelo historiador Pierre Sardella evidencia a necessidade humana de manter-se informado sobre o que lhe cerca e, dessa forma, sentir-se menos vazio. Foi em um contexto aproximadamente igualitário de necessidade de receber e difundir informações que o alemão Johanes Gutenberg criou a prensa de tipos móveis, no século XV. Sua utilização a priori, não diferente de outras invenções, foi religiosa e, somente, no século XVII as primeiras páginas de caráter noticioso regulares deram as caras pela Europa. Segundo evidências, o primeiro jornal semanal surgiu em 1607, na cidade de Amsterdã, e, nesse âmbito, a prensa de Gutenberg tornou-se um instrumento eficaz no aumento da rapidez/quantidade de leitores que passariam a ter acesso às paginas prensadas. Por outro lado, a forte influência do poder político sobre a imprensa não data de agora, desde o primeiro jornal páginas de caráter contrário às autoridades em questão eram censuradas. Isso se intensificou ainda mais com o surgimento da indústria jornalística, no século XIX.
No Brasil, os primeiros materiais tipográficos datam de 1808 com a chegada da família real naquele contexto fuga de Portugal para o Brasil. Historiadores divergem quanto ao motivo do atraso da chegada da Imprensa Brasileira. O fato é, seja por motivos opressores ou por motivos sócio-culturais (ausência de universidades, analfabetismo, atraso populacional), a publicação do primeiro jornal o Correio Braziliense no mesmo ano, que circulava pelo Brasil mas era impresso em Londres, já começava a cumprir o papel jornalístico: incomodar as autoridades. De caráter revolucionário e abolicionista, esse passou a desagradar profundamente os interesses portugueses.

O DESTINO DO IMPRESSO
Novos meios de comunicar-se aparecem. Inseridos em processos complexos de transmissão da mensagem, como a TV, ou simplesmente em contextos simples e antiquados, como o media-bus. Os âmbitos midiáticos podem evidenciar divergências, porém, em um ponto comum esses concordam: o surgimento de uma nova mídia não, necessariamente, exclui outros meios de comunicação, esse é o ponto convergente.
Convergente porque possibilita, e por vezes obriga, uma reinvenção midiática. Veja bem, após a criação da TV muito se conspirou sobre o fim do rádio, mas por fim a criação daquela não extinguiu esse. Ainda hoje, conservamos o costume de ligar o rádio no carro, e, não somente, ele reinventou-se inteligentemente: foram criados programas dinâmicos voltados para atrair o público jovem, promoções diversas, vinhetas interessantíssimas, além de diversas rádios online.

“Ainda há espaço para o jornalismo impresso, desde que ele se modernize. Não dá mais para tratá-lo hoje como se fosse antigamente. É preciso que o jornal encontre o seu foco dentro dessa era digital”, diz o Diretor de Redação do Novo Jornal, Carlos Magno. Ou seja, o impresso não é uma mídia em decadência, é uma mídia em transição.
“O que fracassou não foi o papel propriamente dito. O jornalismo arcaico, esse sim, já se tornou obsoleto há tempos”, complementa Cassiano Arruda, Editor Chefe do Novo Jornal. Para manter-se, o impresso precisa encarar a era digital e seus blogs, redes sociais, portais não como inimigos sedentos para roubar leitores, mas sim “como aliados no processo da comunicação/interação para com o público”. Assim, as pessoas podem estabelecer uma leitura dinâmica online em um primeiro momento e aprofundar-se no tema através do jornalismo opinativo existente no impresso.

Nesse processo, três fatores precisam ser considerados: o acirramento da concorrência, a mudança nos hábitos de leitura e a inovação tecnológica. Levando em conta esses tópicos; produzindo matérias cada vez mais aprofundadas, criativas e literárias, acompanhando o processo de transformação social e aliando-se a tecnologias, o impresso pode e poderá, sim, continuar a ser vendido na banca mais próxima.

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